O gigante Thomas Wolfe.
Literalmente gigante. O homem, sabe-se, tinha quase dois metros de altura. Não pode ser confundido com o jornalista “Tom Wolf”, de grafia similar, porque Thomas W. é escritor que tem várias polegadas acima na qualidade do texto e tem uma imaginação criadora única, que se nos mostra nos livros deixados. Mesmo tendo morrido jovem com 38 anos, Wolfe legou-nos obras importantes, merecendo ser lido por quem ama a prosa de ficção e as boas narrativas curtas (contos).
Wolfe, agora retratado em filme, como nos conta o editor do Jornal Opção Euler Fagundes de França Belém, ele próprio editor e dono de texto digno de ser eternizado em livros – pois bem, como nos conta Euler, o filme “Mestre de gênios” trata da relação de Wolfe com seu editor Max Perkins:

Wolfe e Perkins em foto do artigo de Euler De França Belém, Opção, ed.06/11/16
“O “Mestre dos Gênios”, de Michael Grandage, é um desses excelentes filmes que passam quase despercebidos — tanto que, em Goiânia, foi exibido apenas no Cine Lumière, no shopping Bougainville. A atuação dos atores Jude Law, como o escritor Thomas Wolfe, e Colin Firth, como o editor Max Perkins, é impecável. Não deixa de ser curioso que ingleses tenham representado homens lendários da cultura dos Estados Unidos. Nicole Kidman aparece de maneira discreta como Aline Bernstein, a amante de Thomas Wolfe. Aqui e ali, há licenças poéticas, com condensações necessárias tanto para chamar a atenção do espectador quanto para tornar a história adequada ao cinema.
“Mesmo sendo uma síntese da história complicada mas produtiva entre Thomas Wolfe (1900-1938) e Max Perkins (1884-1947), o filme, inclusive o título, é, no geral, preciso. Se o leitor quer, porém, uma história mais bem contada, com nuances, deve consultar a biografia “Max Perkins — Um Editor de Gênios” (Intrínseca, 541 páginas, tradução de Regina Lyra), de A. Scott Berg, autor premiado com o Pulitzer.” – (Euler Belém, Opção, ed. 06/11/2016 – coluna Imprensa)
Mas, antes de apontar a você, leitor, o link para o belo artigo do Euler Belém, permita-me contar duas ou três cositas sobre o autor em apreço. O responsável pelo meu apreço à obra de Wolfe é o professor e crítico Rodrigo Gurgel. Em uma das aulas virtuais que assisti em março passado, o professor ensinava-nos sobre a figura do “Autor” na literatura. A par de anotar os pré-requisitos do grande autor, Gurgel sugeriu a leitura de “O trem e a cidade”.
Traçado quase como uma fígura mítica, entanto, humaníssima – o Autor imaginado por Gurgel tem que “lançar-se!” com tenacidade, resistência, dedicação, conhecimento e inteligência. Este misto de guerreiro e santo é uma amostra de alguém que exerce um ofício quase sagrado e de quem se exige “o empenho de toda a personalidade”.
É isso que lemos nos livros de Wolfe e de outros autores conscientes dessa espécie de atributos e ouvem sua vocação: Balzac, Vargas Llosa, Flannery O’Connor, Milan Kundera, Georges Bernanos, C.S. Lewis, Flannery O’Connor e o próprio Wolfe…entre muitos outros (não inclui brasileiros, o que farei em outro post da série “Quero ler…O quê?”.
Talvez por ser essa espécie híbrida de guerreiro e místico é que Balzac

Balzac no seu traje de monge – literatura como “o empenho de toda a sua personalidade” (R.G.)
gostasse de se deixar mostrar ao daguerreótipo (a máquina fotográfica primitiva ou aos pintores) com seu traje de monge.
O exemplo de Wolfe é o do encontro da própria “sintaxe” – a ordem das idéias e dos conceitos – transformada em arte sua visão particular do mundo, do que o “O trem e a cidade” foi-nos dado como exemplo de bem realizado…
Curiosa coincidência me levou a só conseguir ler o livrinho do Wolfe dentro de um trem. Era dos poucos livros que levava na bagagem e o li com grande interesse em uma viagem num trem rápido, de Helsinque a São Petersburgo. Desde a citação do autor pelo professor Gurgel, achei uma série de outros livros do autor na Amazon. Confiram no link.
Portanto, esse enorme post só quer dar resposta à pergunta do título – e série de artigos sobre leitura compartilhada: Quero ler…O quê?
– Respondo que merecem ser lidos o artigo de Euler e a ficção de Thomas Wolfe, que com este post, espero, você leitor tenha grande motivação para conhecer.
Eis um daqueles autores a quem se aplica com propriedade a frase de Flannery O’Connor: “para este escritor a forma de ficção será sempre uma forma de superar seus próprios limites, indo além e adiantes em busca das fronteiras do mistério“. Viajo com Wolfe e me delicio com sua prosa de alto nível.
“As pessoas estavam falando a língua universal da partida, que não varia no mundo inteiro – a língua muitas vezes banal, trivial e até inútil, mas por isso mesmo curiosamente tocante, já que serve para esconder uma emoção mais profunda no coração dos homens, para preencher o vazio que há em seus corações ante o pensamento da partida, para servir de escuro, uma máscara que esconda seus sentimentos verdadeiros.
“E por isso havia para o jovem, o estranho e o forasteiro que via e ouvias essas coisas, um caráter emocionante e comovente na cerimônia da partida do trem. Enquanto ele via e ouvia essas atitudes e palavras que, transposta a barreira de uma língua estranha, eram idênticas àquelas que ele vira e conhecera toda a sua vida, entres os seus – ele de repente sentiu, como nunca tinha sentido antes, a terrível solidão da familiaridade, a percepção da identidade humana que tão estranhamente une todas as pessoas do mundo, e que está arraigada na estrutura da vida dos homens, muito além da língua que eles falam, da raça da qual são membros.” (Wolfe, em “O trem e a cidade”, trad. Marilene Felinto).
O Thomas Wolfe é um craque da narrativa curta. Estou lendo agora “Of time and the river” em inglês, porque não o sabia traduzido no Vernáculo.
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Post-post: Veja fotos do trecho de “O trem e a cidade” neste link. Para visitar o site Oficial de Thomas Wolfe Society, clique aqui.