(Texto de John O´Donohue*)
É importante orar por aqueles que são entregues aos nossos cuidados no mundo. Cada pessoa percorre um caminho único pelo mundo. Temos o nosso trabalho, dons, dificuldades e compromissos. A fim de ocupar o nosso lugar e contribuir para a luz do mundo, precisamos respeitar todas essas dimensões diferentes da nossa vida.
Contíguo a toda a nossa atividade no mundo, está também presente na nossa vida um pequeno grupo de pessoas que estão diretamente sob os nossos cuidados. Elas são, em geral, a família e alguns amigos íntimos que passam a viver no centro de nossa vida. Essas pessoas nos são enviadas como dádivas e desafios. Em troca, temos o dever de zelar por elas. Essas pessoas estão aos cuidados da nossa alma.
Quando uma pessoa é realmente íntima de outra, ambas estão sob os cuidados das mútuas almas. Devido às exigências da nossa vida, não podemos estar continuamente ali. Entretanto, na afeição da prece, podemos levar as imagens da presença dessas pessoas no altar do nosso coração. Com freqüência, sem o conhecimento do mundo, levamos secretamente esses amigos no coração e, de coração para coração, enviamos bênçãos, desvelo e cuidados mútuos.
Na tradição celta, sempre se reconheceu que, se uma pessoa enviava bênçãos do seu coração, elas se multiplicavam e retornavam para lhe abençoar a vida. Um coração generoso nunca fica solitário. Um coração generoso tem sorte. A solidão da vida contemporânea se deve em parte à deficiência de generosidade. Cada vez mais, competimos uns com os outros por bens, imagem e prestígio. Um só pode ascender se o outro for rebaixado. Há muito pouco espaço no pedestal.
O velho sistema de classes pode haver em grande parte desaparecido, mas o nosso novo sistema apresenta uma necessidade de hierarquia mais sutil, porém igualmente letal. Esquecemos que a competição é falsa. Uma velha regra de raciocínio é que só se podem comparar coisas semelhantes. Não há no mundo dois indivíduos iguais. Conseqüentemente, é falso comparar pessoas e continuar a fomentar uma ideologia de competitividade tão destrutiva. Ao estabelecer esses falsos padrões de comparação e competição cada um danifica o santuário da presença do outro. Fomos seduzidos pela competitividade. E com muita facilidade. Por causas das certezas fictícias que ela proporciona.
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*Fonte: John O´Donohue, “Ecos Eternos“, RJ, Ed. Rocco, 2001, p.238.
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