29 de novembro, 2015 – UM DOMINGO dedicado ao poeta inglês John Keats, em que o melhor da (re)descoberta foram as odes.
TUDO COMEÇOU com meu desgosto com uma tradução que li logo cedo; prosseguiu com a descoberta de outra tradução seguida de notas; um site interessante, finalizando o dia com um guia para tradução poética. 
Descobri ainda este bom site dedicado ao poeta.
Clique na imagem para acessar a página John Keats.
Abaixo, transcrevo algumas odes, tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. Pensar que Keats viveu apenas 26 anos, em meio a dificuldades financeiras, morreu de tuberculose, abriu mão de uma carreira de cirurgião (anterior à medicina formal), abriu mão de amizades ou, pelo menos, do socorro que Shelley lhe acenou – e poderia salvar-lhe a vida; pensar que Keats foi bombardeado pela mídia de sua época e nem assim deixou de dedicar sua curta vida à Poesia. Pensar nisso, faz-me sentir um ratinho de biblioteca de subúrbio e a memória de John Keats me curvo, enquanto faço uma prece silenciosa pela alma do poeta.
Transcrevo algumas das famos Odes de Keats, em português (trad. Péricles Eugênio da Silva Ramos); e adiciono os originais em imagens para uma leitura bilíngue.
Post-post: grato ao Matheus De Souza Almeida que me levou ao Blog Escamandro – site de amantes da Poesia e da tradução, onde o especialista há de se deleitar.
ODE SOBRE A MELANCOLIA
I
Não, não vás ao Letes, nem retorças as raízes
Em feixes do acônito para forjar o vinho venenoso;
Nem deixes tua pálida fronte ser beijada
Pela beladona, uva, rubi de Prosérpina;
Não faças teu rosário com as bagas dos teixos,
Nem deixes o besouro, ou a mariposa da morte
Ser tua lúgubre Psique, nem a coruja de penas macias
Ser parceira dos mistérios da tua dor;
Sombra a sombra letárgica virá,
E afogará a angústia desperta da alma.
II
Mas quando o ataque da melancolia cair
Súbito do céu qual nuvem em pranto,
Que revigora as flores cabisbaixas,
E vela a verde colina na mortalha de Abril;
Farta então a dor na rosa da manhã,
Ou no arco-íris da onda salgada na areia,
Ou na abundância das peônias globulares;
Ou se tua amada demonstrar ira intensa,
Ata-lhe a mão suave, e a deixa delirar,
E nutra-te fundo, fundo nos teus olhos ímpares.
III
Ela mora com a Beleza – Beleza que fenecerá;
E com a Alegria, cuja mão nos lábios sempre
Se despede; junto ao doloroso prazer,
Virando Veneno enquanto a boca-abelha sorve.
Sim, e no próprio templo do deleite
A velada melancolia tem seu santuário supremo,
Embora apenas o vislumbre aquele cuja língua audaz
Estala no céu da boca a uva da Alegria;
Sua alma provará a tristeza de teu poder,
E penderá em meio a seus nebulosos trofeus.
∑
ODE A UM VASO GREGO
I
Tu, noiva ainda não desvirginada da quietude,
Tu, criada pelo silêncio e o tempo lento,
Historiadora silvestre, que podes assim expressar
Um conto floral mais suave que nossa rima.
Que lenda de friso de folhas se oculta sob teu traçado
De divindades ou mortais, ou ambos,
No Tempe ou nos vales da Arcádia?
Que homens ou Deuses são eles? Que donzelas relutantes?
Que louca perseguição? Que luta para escapar?
Que flautas e pandeiros? Que êxtase selvagem?
II
As melodias são doces, mas aquelas não ouvidas
São mais doces; desta maneira, vós, suaves flautas, soai;
Não ao ouvido sensorial, mas, ternamente,
Toquem as melodias espirituais do não-som.
Belo jovem, sob as árvores, não deixarás
Tua canção, como jamais perderão as árvores suas folhas;
Amante audacioso, nunca, nunca beijarás
Embora perto de tua meta – não te aflijas;
Ela não se desvanecerá, e embora não tenhas o deleite,
Sempre amarás, e será ela sempre bela!
III
Ah! Os ramos alegres, alegres! Que não perdereis jamais
Vossas folhas, nem vos despedireis da primavera;
E, músico feliz, incansável,
A tocar melodias sempre novas;
Mais amor feliz! Mais feliz, feliz amor!
Eternamente cálido e para sempre a ser gozado,
Continuamente palpitante e sempre jovial;
Todos eles suspirando a intensa paixão humana,
Que deixa o coração aflito e saciado,
A cabeça quente, e a língua seca.
IV
Quem são aqueles indo ao sacrifício?
A que verde altar, Ó misterioso sacerdote,
Conduzes aquela bezerra berrante aos céus,
E todos seus sedosos flancos com guirlandas?
Qual cidade à beira da praia ou rio,
Ou na montanha cercada por muralhas,
Que está deserta, nesta sagrada manhã?
E, na pequena cidade, tuas ruas sempre estarão
Em silêncio, pois ninguém que poderia contar
Porque estás deserta voltará.
V
Ó estilo Ático, bela Atitude!
De homens e donzelas forjados em mármore,
Com ramos silvestres e relva pisada;
Tu, forma silente, arroja-nos ao sortilégio
Qual a eternidade: Fria Pastoral!
Quando a velhice arruinar esta geração,
Permanecerás, em meio a outro infortúnio
Que não o nosso, amigo do homem, a quem proferes,
“A Beleza é Verdade, a Verdade Beleza” – isto é tudo
O que sabeis na terra, e tudo o que deveis saber.
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Fonte: KEATS, John. Ode sobre a Melancolia e Outros Poemas. Org. e Trad.: Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo, Hedra, 2010.
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