Mais uma crônica no Jornal O Popular de Goiânia

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Crônica

Destacado

Publicada em O POPULAR, Goiânia (GO), 11 de julho de 2022.

Jornal O Popular, Goiânia, 11/7/2022

Meu artigo no Recorte Lírico

Ilustr. Pôr-de-sol, por Luiz-Paiva-Carapeto.
Clique no link para ler a crônica completa.

O casal Maritain nos “Cadernos de Sizenando (2)”

Anotações de leituras.

Em 2006, passei boa parte do ano lendo o casal Raïssa e Jacques Maritain.
As notas de leitura são ilegíveis, mas têm para mim um significado muito especial.

Agora mesmo, trabalhando num novo livro de poemas, retomei temas que nasceram lá em 2006, com o casal Maritain, como a extensão deste verso de Raïssa, citado pelo companheiro Jacques:

“La douler m´a ravi mon enfance
Je ne suis plus qu´une âme en deuil de sa joie
Dans la terrible et stricte voie
Où vit à peine l´Espérance.”
+++++
Raïssa M., De Profundis, lettre de nuit, 1939.*

Leitura de Raissa Maritain, De ProfundisNotas a leitura de Maritain_Da graça e da humanidade de Cristo 1Notas a leitura de Maritain_Da graça e da humanidade de Cristo

(*) Tradução minha:
“A dor raptou a minha infância
Sou apenas uma alma em luto pela alegria
E, nessa tremenda e estreita via,
É onde se vive apenas de Esperança.”

A dor da infância de Raïssa tem a ver com a dor escondida, jamais declarada que perpassou minha própria infância. Isso me levou à mitologia, onde encontrei o mito de Hefesto (Vulcano), o que no Olimpo foi capaz de dizer:
– “Eu não tenho mãe!”

Rubens_-_Vulcano_forjando_los_rayos_de_Júpiter

Vulcano (Hefesto), lançado do Olimpo por sua própria mãe (Juno) por ter nascido feio e coxo.

Mandado a um orfanato em Anápolis, o menino que fui nunca perdoou sua Juno, aquela que me dera à luz e, sabendo-me coxo, lançou céu abaixo… sem nome de pai, sem nada.

Nunca foi fácil escrever sobre isso. Penso, reflito, mas não há senão que rezar para que o perdão aconteça…está a caminho. Afinal, nesta “via estreita/vivemos apenas pela Esperança”:

Beto por volta dos 10 anos

Eu, por volta dos 10 anos, no abrigo em Anápolis (GO)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Caiu do amanhecer ao meio-dia,
Do meio-dia até a noite vir.
Um dia inteiro de verão, com o sol
Posto, do zênite caiu, tal como
Uma estrela cadente, na ilha egéia
De Lenos.”
(Milton, Livro I do Paraíso perdido, cit. por Bulfinch in O livro de outo da Mitologia: histórias de deuses e heróis, 3a. ed., Ediouro, 2006.

Post-post

Encontrei nos meus “guardados” essas notas de
sábado, 12 de novembro de 2005
Um casal admirável
Jacques e Raissa Maritain (2)

Os amigos mais próximos sabem a importância de Jacques Maritain em minha caminhada espiritual.
Só mais recentemente tive acesso ao primeiro livro de sua esposa Raïssa, de quem o meu amigo Fábio Ulanin, da “Livraria Pasárgada” – garimpou pra mim o excelente “As grandes amizades“, em edição da Agir de 1964.
Agora, encontrei este website com informações preciosas em francês sobre ce couple admirable.
Os autores do artigo linkado [infelizmente o link  não funciona mais, 12/08/2017!!], destacam que Jacques e Raïssa Maritain desempenham o papel de um “casal-farol” da vida intelectual e espiritual francesa, na primeira metade do séc. XX.
Neste artigo de 16/10/2003, somos informados que, tendo sido alunos deHenri Bergson, afilhados de Léon Bloy, amigos de Ernest Psichari, de Jean Cocteau (em 2003 foi celebrado o quadragésimo aniversário de sua morte), de Charles Péguy e de numerosas outras figuras ilustres, Jacques e Raïssa superaram as aparências de sua época, marcada por duas guerras mundiais, pelo positivismo que dominava o ambiente intelectual, para se consagrarem à busca da Verdade.
O testemunho de Jacques e Raïssa Maritain permanece profético até hoje. Para muitos cristãos que sonham com uma vida piedosa dedicada ao trabalho da inteligência, o casal Maritains nos ensina que “é necessário que o Amor proceda da verdade e que o conhecimento frutifique em Amor”. Aos apóstolos impacientes, tentados pelas estratégias de evangelização massiva, eles lembram que cada alma é única em seus mistério irredutível. Só a amizade espiritual pode reconciliar o chamado da caridade e o da verdade.
Este casal respondeu positivamente à vocação do sacramento do matrimônio de forma muito particular e cada um se transformou (sem que o brilho de um impusesse sombra sobre o outro) um convite à compartilhar as grandes amizades em seu caminho de santificação da vida.

Aos francófonos, boa leitura.
Seule l’amitié spirituelle peut réconcilier l’appel de la charité et celui de la vérité. Iil faut que “L’Amour procède de la vérité et que la connaissance fructifie en Amour”.
(Somente a amizade espiritual pode reconciliar o chamado da caridade com o da verdade. É preciso que o Amor proceda da verdade e que o conhecimento frutifique em Amor).

 

Narrativas (I)

JÁ PERDI muito dos meus medos na vida. Comecei com o de escuro. Esse não é fácil porque sei de muita gente que é até mais velho que eu e ainda tem. Tem gente com medo de fantasmas. De verdade, não o das revistinhas da banca do tio Cláudio.

Na casa dele, sempre aprendi coisas novas nas revistas em quadrinhos. O meu primo tinha tudo quanto é revista do Tarzan e eu duvido que alguém tenha desenhado melhor para revistinhas como o fizeram naquelas lá. O Onziberto tinha uma inveja danada de mim quando eu ia pra casa do tio Cláudio.

A viagem era meio extensa, mas valia a pena. Para não ficar com enjôo, eu ia na boléia do caminhão. Acho que foi daí que eu causei tanta inveja no meu primo. Éramos uma escadinha duns seis . Não sei porque ele destoou tanto de nome: era uma parelha boa eu e outro dos sete.

A gente andava muito junto, catando gabiroba, armando armadilha pra passarinho e até mesmo quando olhamos a Creuza tomando banho nua na cachoeira lá no Pirenópolis, a gente andava de parelha. Até pra pegar sarampo. Caxumba também foi junto. É o que lembro.
Foi quando subia de ônibus para Sobradinho que eu pensei:
A armadilha que me aprontaram para assustar foi o que me fez parar com esse medo de saltar; de viagem longa e de cachoeira.
A gente só ia e vinha – ia-e-envinha, de conforme Sêo Alcides – era de carroça; lombo de cavalo aprendi na Coivara, fazendinha do irmão da igreja de crente.
Agora o ônibus e o caminhão do meu tio vieram depois.
Naquele tempo, uma viagem de Anápolis a Pirenópolis levava uma boa horinha.
O Salto de Corumbá, esse já era bem mais perto. Ia rápido, ou então era eu que gostava mais do lugar para achar isso.
Deu-se, então, que eu tive que saltar de ponta do barranco, por conta duma aposta boba que eu tinha com o Nadim.
– Salta, nada – ele disse. Você é mole demais. E falou outras coisas que não é de boa conta ficar repetindo.
Por dentro, eu estava tremendo, mas o tempo favorecia. Rezei calado e fui andando rumo do barranco. Não falei nada de volta.
Pulei. Depois de ver outros fazendo, aprendi a mágica.
Foi um salto e tanto. Não demorei dentro d’água nem um minuto; eu acho que por conta de que era mês sem erre e toda a gente já sabia disso.
– O braço meu por debaixo do subaco ficou parecendo bife batido; e nas partes por dentro, então, menino, estavam que só um sumido…Fiquei todo engilhado, mas pulei.
Nunca mais deu de o Nadim ficar mangando de mim.
No convento de lá, de Pirenópolis, havia um buraco no muro, mas isto já é outra história.
Δ/ΔQ.