Meus caros amigos:
NÃO HÁ HUMORISTA brasileiro que tenha me feito rir mais do que Chico Anysio.
Havia o Mazzaropi da minha infância, mas era cinema e raro. Chico frequentou a sala de minha casa durante muitos anos me fazendo sempre rir e descontrair-me. Diria mesmo que nos fez rir e descontrairmo-nos, pois sempre foi um programa para os Amaral Queiroz, em família.
Revi no Jornal Nacional e na Globo News de hoje à noite toda a história composta de estórias de nossas vidas.
É verdade que diante do frio da morte trememos (pois morte não deve ter nenhum calor, a não ser que o sujeito tenha sido queimado). Todos dirão a mesma coisa, principalmente diante das câmeras (e estas não as tenho aqui) esbanjando elogios a Chico Anysio. Não o faço de forma espalhafatosa nem gratuita, pois ele sempre me fez rir e sempre me deu orgulho de tê-lo como concidadão.
(Constato que é bem raro que tenha-me ou tenha-nos irritado – o que é bem comum em outros humoristas).
Verdade é que o criador de mais de duas centenas de personagens de riso aberto e generoso não tem senão calor humano para nos transmitir. Seus tantos personagens fizeram parte de nosso cotidiano e estão na nossa memória afetiva do Riso.
Vou ao pai da matéria para entender o riso – se é que precisamos, pois rir é tão simples como começar a fazê-lo (como se coçar) e faz muito bem.
O x da questão é que o Riso já foi assunto de filosofia (e das boas). Quando comecei a me irritar com o esgar do (mal/mau) humor atual de certas pessoas na websphere, chegou-me em salvação um anjo chamado MEG e me enviou pelos Correios “O Riso”, de Henri Bergson.
É, pois, do mestre Bergson que garimpo essas pérolas (o riso como “gesto social”) para lembrar-me com afeto do humorista de minha vida, curtindo Chico Anysio:
“O riso não é da alçada da estética pura, pois persegue (de modo inconsciente e até imoral em muitos casos particulares) um objetivo útil de aperfeiçoamento geral. Tem algo de estético, todavia, visto que a comicidade nasce no momento preciso em que a sociedade e a pessoa, libertas do zelo da conservação, começam a tratar-se como obras de arte. Em suma, se traçarmos um círculo em torno das ações e disposições que comprometem a vida individual ou social e que punem a si mesmas através de suas consequências naturais, fica fora desse terreno de emoção e de luta, numa zona neutra em que o homem serve simplesmente de espetáculo ao homem, uma certa rigidez do corpo, do espírito e do caráter, que a sociedade gostaria ainda de eliminar para obter de seus membros a maior elasticidade e a mais elevada sociabilidade possíveis. Essa rigidez é a comicidade, e o riso é seu castigo”.
O chicote de Chico era tanto para a sociedade brasileira e seus maus costumes quanto para seus dirigentes.
Tiro meu chapéu para Chico Anysio, que me fez rir e me deu muito mais elasticidade como cidadão. Embora nunca tenha, mesmo com o charme e a flexibilidade dele, aprendido a contar piadas – o que é um defeito de fábrica em minha formação.
Ave, Chico Anysio! 23.03.2012.
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Fonte: BERGSON, Henri. “O Riso”. Edit. Martins Fontes, SP, 2004. pág.15.
Post-Post: Soube da cobertura da morte de Chico Anysio: o de que mais gostei foi saber que ele com 6 esposas e um mundo de filhos e netos, se dava bem com todos.Confira neste link> http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/03/corpo-de-chico-anysio-e-cremado-no-rio.html