EM meio aos cuidados que a pandemia do Coronavírus recomenda, leio e escrevo. Esta reflexão veio daí…
Leiam e cometem — e #fiqueemcasa se possível.


EM meio aos cuidados que a pandemia do Coronavírus recomenda, leio e escrevo. Esta reflexão veio daí…
Leiam e cometem — e #fiqueemcasa se possível.
A tendência do cronista, já disse, é fazer o que todos fazem, mas as listas abundam em redor, melhor fazer um levantamento poético-afetivo do ano que finda. E para isso, as musas me concederam lembrar de dois poetas – Lucchesi, tradutor e escritor e do poeta Carlos Drummond de Andrade, que em sua receita de ano novo, constata que há muitos que insistem em sonhar com o champanhe e a birita para desvelar o que só o interior pode revelar: a fórmula de um bom Ano Novo.
**************Clique na figura abaixo para ler a crônica na íntegra!****************
Poeminha Amoroso – Cora Coralina
Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu…
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu…
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo…
eu te amo, perdoa-me, eu te amo…
♠♠♠♠♠♠
As sem razões do amor – Carlos Drummond de Andrade
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
♠♠♠♠♠♠
Bilhete – Mário Quintana
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…
Clique no link abaixo para ouvir os poemas falados:
SOUNDCLOUD do Beto.
UMA DAS excelentes descobertas destas férias na América é (tem sido) a poetisa Elizabeth Bishop.
Encontrei em “Uma certa Arte” a magia estudada de Elizabeth – um trabalho laborioso sobre uma forma franco-italiana, adotada pela Poesia norte-americana (villanelle).
Soube depois que Elizabeth vivera no Brasil, onde escreveu muito, entrosou-se na cultura e na vida política e viveu um grande amor, apaixonada que foi pela arquiteta Lota de Macedo Soares (responsável pelo paisagismo do Aterro do Flamengo).
Mesmo confessando nunca ter aprendido a bem falar o português, Elizabeth lia os jornais, livros e conversava com um círculo de amigos de alta cultura no Brasil, onde também recebia amigos e jornalistas norte-americanos, interessados na “imigrante” afetiva. Ela chegou a ter uma casa em Ouro Preto, cidade da qual participou e “palpitou”- p.ex., até mesmo sobre assuntos comezinhos, como a necessidade de a cidade implantar um sistema de esgotos…
E do Rio, sabe-se que Bishop falava mal da falta de infra-estrutura e do mal funcionamento dos mais banais serviços – como elevadores nos prédios de então – isso aparece em suas cartas e até mesmo em Poemas:
Ó, turista,
então é isso que este país tão longe ao sul
tem a oferecer a quem procura nada
[menos
que um mundo diferente, uma vida
[melhor?
**** No original:
“Oh, tourist,
is this how this country is going to answer you
and you immodest demands for a different world,
and better life, and complete comprehension
of both at last, and immediately,
afeter eighteen days of suspension?
“Chegada em Santos”, 1952, tradução de Paulo Henriques Britto
Mas voltemos ao foco deste post que o Poema das Sete Faces do poeta Carlos Drummond de Andrade. Elizabeth Bishop encontrou soluções interessantes para o difícil (e quase intraduzível) quinteto drummondiano:
“Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mas vasto é meu coração.
(CDA).
Pois bem, de forma criativa e ‘imaginosa’, Bishop faz de Raimundo um Eugene, de mundo, Universe; e mantém a rima no estilo próprio, com o acento anglófono – com um bom resultado:
“Universe, vast universe,
if I had been named Eugene
that would not be what I mean
but it would go into verse
faster.
Universe, vast universe,
my heart is vaster.”
No entanto, ciente das limitações que sua versão podia conter, transcreve o quinteto em português, permitindo ao leitor tirar suas conclusões.
Abaixo, transcrevo o poema na versão inglesa, na íntegra:
When I was born, one of the crroked
angels who live in shadow said:
Carlos, go on! Be gauche in life.
The houses watch the men,
men who run after women.
If the aftrnoon had bee blue,
there might have been less desire.
The trolley goes by full of legs:
white legs, black legs, yellow leg.
My God, why all the legs?
my heart asks. But my eyes
ask nothing at all.
The man behind the moustache
is serious, simple and strong.
He hardly ever speaks.
He has a few, choice friends,
the man behind the spectacles and the moustache.
My God, why has Thou forsaken me
if Thou knew’st I was not God,
if Thou kenw’st that I was weak?
Universe, vast universe,
if I had been named Eugene
that would not be what I mean
but it would go into verse
faster.
Universe, vast universe,
my heart is vaster.
I oughttn’t to tell you,
but this moon
and this brandy
play the devil with one’s emotions.
****
FONTE: Livros das fotos acima e blogs, sobretudo em blog-revista Escamandro, onde mais (e aprofundadamente) se pode ler sobre Elizabeth Bishop, seguindo este link (traduções Escamandro). Deixei de transcrever o poema original de Drummond, por ser de domínio público. (AQ).
Virando a folhinha, um ano novinho em folha, como se espera, como disse o poeta Drummond em crônica recém republicada aqui:
…novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha…
Então, começo a me perguntar: O que devo fazer? O que desejo fazer?
Achar um Plano prático para ler a Bíblia Católica em um ano, pareceu-me bem aceitável. Um amigo me enviou uma planilha onde posso facilmente acompanhar minha evolução, lendo em inglês na edição da Oxford University Press, Revised Standard Version, Catholic Edition) e conferindo online (ou em papel) na Bíblia Católica, da ed. Ave Maria.
Como me conheço, sei que sempre começo com entusiasmo, mas hei de precisar de muita persitência para chegar ao final deste novo ano com pelo menos este plano realizado. Santo Tomás de Aquino me ajude nessa jornada.
Talvez também seja uma boa iniciativa voltar a estudar (formalmente). Pesar em uma extensão para 2013 pode ser boa ideia. E, por fim, quem sabe, voltar à terapia…?!
Em tudo, nunca esquecer de unir trabalho e celebração, estudo e diversão. Bons vinhos (com moderação, wow, sempre desejada!), bom papo em boa companhia.
Enfim, desejo um excelente 2013 a todos os leitores deste blog e do diário Sonatas & Cafeína.
Amitiés,
BetoQ.
Que a travessia seja sem turbulência. Só numa coisa, discordo do Drummond, vou ali no “Canto do Beto”, ver meu quintal iluminado por amigos e crianças das famílias Amaral Corrêa, Queiroz & Foust e tomar umas ‘biritas’. Avoé, jovens talentos. Que a travessia seja com o mínimo de turbulências. Saúde, Paz & Bem.
O que importa não é a virada, e nem como passaremos essa noite, mas sim o que iremos fazer realmente para ter um ano melhor que o que passou!
Vejam abaixo um poema de Carlos Drummond De Andrade sobre o tema:
Receita de Ano Novo
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou…
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