Em “A biblioteca à noite”, o argentino Alberto Manguel transcreve trecho de uma carta do cônsul romano Cícero que, por volta do ano 36 a.C., escrevia ao amigo Ático, sentado em seu estúdio à beira-mar em Antium.
“Eu me divirto com os livros, dos quais tenho boa provisão em Antium, ou conto as ondas – o tempo não está bom para pescar cavalinhas. Ler e escrever não me trazem propriamente consolo, mas distração”.
Foi para exaltar as vantagens de se ter e poder se recolher a um estúdio (próximo à biblioteca), que o argentino inseriu este trecho antigo romano a certo ponto de seu belo livro.
Ele constata que escritores são uma “subespécie de leitores” que precisam se cercar de certos materiais para seu trabalho e precisam de um cantinho só seu, aposento que termina se transformando em uma espécie de “toca ou ninho, tomando a forma de seu corpo e oferecendo receptáculo para seus pensamentos”.






Hoje, minha intenção é diferente, e ao pescar essa citação como mote para iniciar este artigo, desejo situar-me para meus seis leitores (e primeiro para mim mesmo), como e onde me encontro em meio a esta pandemia.
Tendo tomado a decisão, minha mulher e eu, de nos isolarmos na costa da Bahia, por um tempo suficiente para ver avançar os índices de controle em nossa cidade, só retornando quando as autoridades divulgarem situação mais aceitável em Goiânia.
Foi assim que a casinha de praia de Guarajuba, na Bahia, transformou-se na minha Antium sem estúdio.