PAI IGNORADO
(Um poema de ocasião.
Ou como dizia Goethe: toda minha poesia foi de ocasião…)
Eu não acompanhei o enterro
Do pai que nunca conheci.
De minha carne, não erro:
não era nariz do morto que vi.
Albert Camus enterrou o pai dele:
Le premier Homme – um estertor.
A dor dele em Alger, senti. E na Vila Jaiara
debalde procurei, sem nunca tê-lo visto – pai!
Rodasse o mundo inteiro,
não o veria, mas no lago à tarde,
por ordem de santo Ignacio de Loyola
pranto suave verti.
– E dei Adeus! ao pai ignorado…
Eu o vi ao cair da tarde no ribeirão
João Leite – e enterrei-o, sozinho;
feito cai o lírio de Chile,
na secura do meio dia.
Acólito de La Solitude parti.
Parti e nunca mais dele lembrei
nem do registro civil.
Ignorado confronto
A grafia númida –
nímia de meus dias.
Filho do pecado,
no dia dos pais
levo presente
para minha tia.
(A G.M.Q.)
./.
Goiânia, dia dos pais de 2016.