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Alguns poemas de mulheres goianas ou: Tecelãs de Palavras – antologia de bolso (I)
Olá, Leitor(a) – dizem por aí que a poesia morreu, que não há mais leitor que resista às linhas, aos versos, aos torvelinhos – matéria das tecelã(o)s.
Não têm paciência mais, dizem os entendidos da web.
– Será mesmo?
François Barraud [Public domain], via Wikimedia Commons
EU PORÉM VOS DIGO, repetindo VILÉM FLUSSER, que já dissera em modo de pensamento em voz alta sobre o fazer poesia (ou literatura em geral):
“ O intelecto ´sensu stricto` é uma tecelagem que usa palavras como fios. O intelecto ´sensu lato´ tem uma ante-sala na qual funciona uma fiação que transforma algodão bruto (dados dos sentidos) em fios (palavras). A maioria da matéria-prima, porém, já vem em forma de fios.
Eis duas tecelãs de minha terra, Goiás ou Goyaz, como gosto de grafar.
Deixai que a poesia dessas duas poetisas goianas inundem seus corações (e mentes) com a beleza de seu (delas) tecidos tão bem feitos.
Então, terei ganho meu dia, mesmo se o vosso comentário não aparecer ao fim e ao cabo da leitura. Os poemas abaixo são parte de meus poemas de uma antologia de bolso que irei pouco a pouco ampliando, mas ainda assim não deixando que ultrapassem o propósito original (o bolso).
SÔNIA MARIA DOS SANTOS

Poetisa Sônia Maria dos Santos (Anápolis, 1945).
Matéria da alma
Danço ainda com uma flor na boca
a esperança toda numa valsa.
Da alma, a matéria o tempo não gasta:
prossegue, amante, peregrina;
entre a alegria e o assombro
das horas repetidas;
entre a luz que chega e cega
e da que suavemente pousa na retina.
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SÓ O VERBO
Não mais
sobre a pedra
o cordeiro degolado,
no manto claro
azul do dia.
Só o verbo
com sua lâmina
desce à cabeça,
à linha estreita, à escrita;
gota a gota,
num cântico,
com a face erguida.
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Frei Juan De La Cruz |
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DARCY FRANÇA DENÓFRIO
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Darcy França Denófrio (Itarumã, Jataí-GO, 1936)
ÍNVIO LADO
“Tell all the truth but tell it slant –
Success in circuit lies.”
(Emily Dickinson).
Há um lado da flor
que não penetramos:
talvez a reserva sitiada
onde guarda seu aroma.
Quase sempre esbarramos
em seus ferrões de defesa
e sangramos nossa dor
pela ponta dos espinhos.
E aí então paramos
e olhamos só por fora
a beleza que se entrega
com sua quota de reserva.
É do outro lado
(do mistério)
que não alcançamos
que a flor explode
em toda sua grandeza.
É lá que se contorceu
e guardou a sua história
e sangrou as suas gotas
e a solidão que (sobre)carrega.
Quem olha uma flor
ou um ser desabrochado
vê um prisma (feio ou lindo)
jamais o seu lado
inviolado.
ESCAPE
A raça humana
não pode suportar muita realidade.
(T.S. ELIOT)
Conheço a distância
que vai entre o sonho
e a dura realidade.
E conheço a fórmula
de amortecer o susto
e a queda do último piso.
Olhar sem crer lá fora
esse vidro que corta
e fechar, atrás de si, a porta.
Plantar, como sempre faço,
essas flores no paredão do muro
para deslumbrarem os meus olhos.
E, nessa lente distorcida,
em que capto a beleza,
mesmo aquela que não existe,
ficar musgo sobre a rocha
— véu veludoso verde veludo —,
cobrindo essa faca que cega o corte.
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/darcy_franca_denofrio.html
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Fontes: SANTOS, Sonia Maria. Livro “Matéria da Alma”, Kelps, 2011, 138 pp. e DENÓFRIO, Darcy França. fontes web consultadas – http://www.ubebr.com.br/perfil/atuais/darcy-frana-denfrio-
Sites e livros reais, acima citados.