Visões da poesia de W. B. Yeats

O Balão da Mente[i]

Mãos, façam o que vos é pedido:
Tragam o balão da mente
Que intumesce e se arrasta ao vento
Para o seu estreito alpendre.[i] YEATS, W. B. “Poemas escolhidos”, tradução: Frederico Pedreira, Lisboa: Relógio d´Água, 2017, p. 175.

W.B.Yeats (1865-1939), poeta visionário, prêmio Nobel de 1923

W. B. Yeats (1865-1939), poeta anglo-irlandês, visionário, ganhou o prêmio Nobel de 1923



Para este cronista, velho leitor (muito antes de ser autor) de Poesia, têm nossas mãos a tarefa principal no ofício, pois que diante do ato de criação vê-se o criador como um jovem frente a um potro a ser domado.

Nada haveria na imaginação, “essa doida da casa” (cf. Santa Teresa D´Ávila), que só a visão ocultista ou cristã, rosacruciana, espírita ou budista pudesse fazer que o “estreito alpendre” da composição, da razão poética, não contivesse o balão da mente na sua exata dimensão criativa. Às mãos, ao ofício de artesão cabe o principal da poesia – Yeats o soube até os últimos momentos de seu artesanato poético.

É poema relegado a plano secundário na poesia dele, Yeats, mas como os poetas menores que fazem a alegria, o contraponto e o charme dos gênios, ele nos ensina que pode ser um pequeno aperitivo que nos leva à refeição completa da obra deste gigante que é o anglo-irlandês William Butler Yeats.

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Aos que estiverem sós, à meia-noite de 25!

Um soneto escrito em 15 minutos permanece vivo há dois séculos

SIM, quinze minutos teria sido o tempo que levou Keats para escrever um soneto que é hoje um clássico. Isso é que nos conta Péricles Eugênio da Silva Ramos sobre este soneto abaixo, traduzido pelo próprio autor da introdução ao volume de Poemas do inglês KEATS e cujo original vai abaixo transcrito, após a tradução.

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O original do poema “On the Grasshoper and Cricket” teria sido escrito por John Keats em uma competição havida na casa do poeta, ensaísta e jornalista Leigh Hunt. Este – um dos poucos amigos que Keats fez no mundo da literatura inglesa – teria proposto o tema “o canto do grilo” e se considerado batido pelo amigo Keats. O hoje famoso “O Gafanhoto e o Grilo” não foi o único poema gerado em competição.

Há, segundo Péricles Eugênio, também o famoso soneto “To the Nile” (Ao Nilo), em que este teria aparentemente superado Shelley, em 1818 – mas onde quem teria saído vitorioso fora o amigo jornalista-poeta (Hunt).

A tradução de Péricle Eugênio de “Sobre o Gafanhoto e o Grilo”

Original de “On the Grasshoper and Cricket”

***********por John Keats.

A poesia da terra nunca, nunca morre:
Quando ao vigor do sol languesce a passarada
E se abriga nas ramas, um zizio corre
De sebe em sebe, em torno à várzea já ceifada;

É o gafanhoto, que a assumir o mando acorre
No fausto do verão; e nunca dá parada
Ao seu prazer, pois de erva amável se socorre
Para descanso, ao fim de sua alegre zoada.

A poesia da terra nunca se termina:
Do inverno em noite só, quando com a geada cresce
O silêncio, do fogão se ergue de repente

O zinido do grilo, sempre mais ardente,
E para alguém zonzo de sono ele parece
O gafanhoto em meio à relva da colina.

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ORIGINAL do poema
“On the Grasshopper and Cricket”

The Poetry of earth is never dead:
  When all the birds are faint with the hot sun,
  And hide in cooling trees, a voice will run
From hedge to hedge about the new-mown mead;
That is the Grasshopper’s—he takes the lead
  In summer luxury,—he has never done
  With his delights; for when tired out with fun
He rests at ease beneath some pleasant weed.
The poetry of earth is ceasing never:
  On a lone winter evening, when the frost
    Has wrought a silence, from the stove there shrills
The Cricket’s song, in warmth increasing ever,
  And seems to one in drowsiness half lost,
    The Grasshopper’s among some grassy hills.
Source: 1884. Fonte: Poetryfoundation.org 
++++
Fonte: KEATS, John. Poemas de John Keats, trad. introdução e notas de Péricles Eugênio da Silva Ramos. – São Paulo : Art Ed., 1985, p.71. [O livro citado foi premiado com o Jabuti 1986 da Câmara Brasileira do Livro].

louis_edouard_fournier_-_the_funeral_of_shelley_-_google_art_projectSobre Leigh Hunt (1784-1859). Autor de “The story of Rimini” (1816) era amigo de Keats, Byron e de Shelley, bem como de Hazlitt e Lamb. Teria sido “o homem de letras mais importante de que Keats cultivou a amizade…” diz-nos Péricles Eugênio, embora ressalte que respeitando Shelley, “dele Keats não se aproximou para preservar sua prória individualidade. Ou talvez porque a nobreza de Shelley não o atraísse. Extrema ironia do destino dos poetas, Shelley afoga-se tendo nos bolsos dois livros – um destes era o último livro de John Keats…

“John Keats aliás não se achegou a nenhum dos grandes poetas de seu tempo, como Wordsworth ou Coleridge, os quais veio a conhecer, admirando o primeiro, apesar de certas divergências (julgava sua poesia egotista, diretriz que não era a dele) e também o segundo, com o qual veio a ter mais tarde uma palestra proveitosa, segundo parece, e ao qual deu a impressão de que já trazia a morte nas mãos.” – afirma Péricles Eugênio na introdução ao volume de Poemas.

Hunt aparece no quadro de Fournier (fig. acima) como aquele que não observa a cremação. Shelley se afogou durante o naufrágio do barco em que insistira em tomar, apesar do mau tempo. Era o dia 8 de julho de 1822, e o poeta iria de Pisa para Livorno. O poeta teria sido aconselhado a esperar mais um dia para sair em seu barco, devido ao mau tempo. Mesmo assim partiu, e o barco se perdeu na tempestade. Morreram Shelley, Edward Williams e o grumete Charles Vivien.[7] Após algum tempo, o mar devolveu os corpos. Percy foi encontrado na praia perto da Via Reggio, tendo no bolso uma edição de Sófocles e o último volume de Keats.