Arquivo da categoria: Carlos Drummond de Andrade
Poesia falada
CONTINUAÇÃO do projeto – agora com poemas de amor (1).
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Poemas lidos nesta versão:
Poeminha Amoroso – Cora Coralina
Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu…
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu…
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo…
eu te amo, perdoa-me, eu te amo…
♠♠♠♠♠♠
As sem razões do amor – Carlos Drummond de Andrade
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
E com amor não se paga.
Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
Não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
♠♠♠♠♠♠
Bilhete – Mário Quintana
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…
Clique no link abaixo para ouvir os poemas falados:
SOUNDCLOUD do Beto.
Seven-Sided Poem, Drummond in English
UMA DAS excelentes descobertas destas férias na América é (tem sido) a poetisa Elizabeth Bishop.
Comecei lendo-a em nota de Hirsch – em “How to Read a Poem and Fall in Love with Poetry” -, onde o professor Edward Hirsch fala sobre (e transcreve) o poema “One Art” – leia o post com a tradução de Nelson Ascher.
Encontrei em “Uma certa Arte” a magia estudada de Elizabeth – um trabalho laborioso sobre uma forma franco-italiana, adotada pela Poesia norte-americana (villanelle).
Soube depois que Elizabeth vivera no Brasil, onde escreveu muito, entrosou-se na cultura e na vida política e viveu um grande amor, apaixonada que foi pela arquiteta Lota de Macedo Soares (responsável pelo paisagismo do Aterro do Flamengo).
Mesmo confessando nunca ter aprendido a bem falar o português, Elizabeth lia os jornais, livros e conversava com um círculo de amigos de alta cultura no Brasil, onde também recebia amigos e jornalistas norte-americanos, interessados na “imigrante” afetiva. Ela chegou a ter uma casa em Ouro Preto, cidade da qual participou e “palpitou”- p.ex., até mesmo sobre assuntos comezinhos, como a necessidade de a cidade implantar um sistema de esgotos…
E do Rio, sabe-se que Bishop falava mal da falta de infra-estrutura e do mal funcionamento dos mais banais serviços – como elevadores nos prédios de então – isso aparece em suas cartas e até mesmo em Poemas:
Ó, turista,
então é isso que este país tão longe ao sul
tem a oferecer a quem procura nada
[menos
que um mundo diferente, uma vida
[melhor?
**** No original:
“Oh, tourist,
is this how this country is going to answer you
and you immodest demands for a different world,
and better life, and complete comprehension
of both at last, and immediately,
afeter eighteen days of suspension?
“Chegada em Santos”, 1952, tradução de Paulo Henriques Britto
Mas voltemos ao foco deste post que o Poema das Sete Faces do poeta Carlos Drummond de Andrade. Elizabeth Bishop encontrou soluções interessantes para o difícil (e quase intraduzível) quinteto drummondiano:
“Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mas vasto é meu coração.
(CDA).
Pois bem, de forma criativa e ‘imaginosa’, Bishop faz de Raimundo um Eugene, de mundo, Universe; e mantém a rima no estilo próprio, com o acento anglófono – com um bom resultado:
“Universe, vast universe,
if I had been named Eugene
that would not be what I mean
but it would go into verse
faster.
Universe, vast universe,
my heart is vaster.”
No entanto, ciente das limitações que sua versão podia conter, transcreve o quinteto em português, permitindo ao leitor tirar suas conclusões.
Abaixo, transcrevo o poema na versão inglesa, na íntegra:
SEVEN-SIDES POEM (Poema das 7 faces) – Carlos Drummon de Andrade, vertido ao inglês por E. BISHOP.
When I was born, one of the crroked
angels who live in shadow said:
Carlos, go on! Be gauche in life.
The houses watch the men,
men who run after women.
If the aftrnoon had bee blue,
there might have been less desire.
The trolley goes by full of legs:
white legs, black legs, yellow leg.
My God, why all the legs?
my heart asks. But my eyes
ask nothing at all.
The man behind the moustache
is serious, simple and strong.
He hardly ever speaks.
He has a few, choice friends,
the man behind the spectacles and the moustache.
My God, why has Thou forsaken me
if Thou knew’st I was not God,
if Thou kenw’st that I was weak?
Universe, vast universe,
if I had been named Eugene
that would not be what I mean
but it would go into verse
faster.
Universe, vast universe,
my heart is vaster.
I oughttn’t to tell you,
but this moon
and this brandy
play the devil with one’s emotions.
****
FONTE: Livros das fotos acima e blogs, sobretudo em blog-revista Escamandro, onde mais (e aprofundadamente) se pode ler sobre Elizabeth Bishop, seguindo este link (traduções Escamandro). Deixei de transcrever o poema original de Drummond, por ser de domínio público. (AQ).