Hildegard de Bingen: uma vida sob o sopro de Deus (1)


THE MISTERY OF HILDEGARD OF BINGEN –

Este foi o tema do curso que fiz com a professora, musicista e brilhante palestrante Jane Ellen.

Como meus seis leitores sabem, estou nos EUA, num programa de estudos continuados da UNM CONTINUING EDUCATION – seguindo o “Osher Lifelong Program“, um tempo precioso que estou investindo, neste período outonal no hemisfério norte (Fall’14) em cursos, preferencialmente sobre a era Medieval.

Knowledge is a road to wisdom.

    The Human soul is made for the Eternal”


– esta é minha legenda nesse período, tirei da obra de São Boaventura.

Até agora, passados +30 dias de permanência no Novo México, eu vos digo que este foi o melhor curso. A paixão pelo assunto e o conhecimento da palestrante como musicista que é, fizeram o perfeito complemento para que o curso “19844 Hildegard of Bingen” saísse do catálogo da UNM para o meu coração e minha mente.

The Trinity - Hildegard's Vision #1 - A Trindade em União
The Man in Sapphire-Blue

O que pretendo com essa série de posts é transmitir-lhes um pouco do continuado interesse que Hildegard pode gerar ao estudioso de nossos tempos interessado nas lições da Idade Média e tão carente de boa música e de aprofundar sua espiritualidade.

Há razões para amar Hildegard hoje, mas é melhor percorrer o caminho que leva ao coração e ao espírito – é o que mais conta nesta jornada. Hildegard é um dos pontos profundos entre os mestres e místicos da Idade Média.

Nascida em família nobre na cidade de Bickelhein/Rhineland (Alemanha), esta freira visionária fundou dois mosteiros, compôs mais de 70 canções – em sua maioria, música angélica -; escreveu mais de 100 cartas a amigos, confessores, bispos, arcebispos e poderosos dirigentes de sua época – em alguns ipassando um pito; compôs mais de 70 poemas; escreveu e publicou 9 livros sobre temas diversos, incluindo temas diversos como o uso medicinal das plantas, botânica e biologia além de, naturalmente, caminhos de divinização da vida (ver ‘Scivia’, adiante).


RECOMENDO que você, leitor, continue lendo e ouvindo a sequência musical abaixo, de uma série de obras compostas por Hildegard, vou contando o resto…


Ah, que bom, ter você de volta, caro leitor…Como estava dizendo:

Segundo o professor dr. Bernard McGinn, Hildegard, reconhecida como Doutora da Igreja, pelo papa Bento XVI – em 07.OUT.2012, “emerge como uma das mais notáveis figuras femininas da história do Cristianismo”. Nessa viagem para esse mundo que a professora Jane Ellen chamou de “Little Renaissance“, encontramos uma das mais fascinantes e notáveis mulheres num tempo em que a mulher não era de modo algum considerada “notável”. Sua teologia e sua pintura visionária são quase indissociáveis, sua vida monástica marcada por muitas realizações, em que a sua música tem um lugar único tanto na inovação da música sacra da Igreja Católica quanto na música dita de introspecção (ou meditação).


A prof. Jane Ellen sintetiza bem como HILDEGARD tornou-se “… a remarkable woman, a FIRST in many fields” – confira, leitor:

i) Numa época em que poucas mulheres escreviam, HILDEGARD produziu obras relevantes de Teologia e “Visionary Writing”;
ii) Quando poucas mulheres eram devidamente respeitadas, HILDEGARD era consultada e aconselhava nobres, bispos, papas e reis;
iii) HILDEGARD usou os poderes curativos das plantas (e essências) para curar pessoas, tendo deixado Tratados de história natural e uso medicinal das plantas, dos animais, das árvores e das pedras;
iv) HILDEGARD escreveu música e poesia desafiando as convenções de seu tempo, tornando-se a primeira compositora cuja biografia tornou-se conhecida e divulgada;
v) HILDEGARD fundou um vibrante convento (St.Rupert?), onde música de alta qualidade era sempre executada. [este teria se tornou mais tarde a séde do coro da catedral local, coro este para o qual Mozart viria a compor boa parte de sua música – seg. observação de M. Fox].
vi) HILDEGARD criou e supervisionou a criação de inúmeras iluminuras, as quais traduzem em imagens pictóricas suas visões espirituais.

As três obras mais importantes de Hildegard são SCIVIAS (“Know the Lord’s Ways, contraction of Scito Vias Domini); “The Book of the Life of Merits” e “The Book of Divine Works” – todos baseados em suas visões espirituais e o que ouviu rezando muito. Nesses livros, ela nos fala principalmente como uma original monja que elabora uma Teologia com um enorme interesse em cosmologia e escatologia (normal na Idade Média, mas que no caso dela – ressalta Dr. McGuinn: “Hildegard tornou-se mais tarde amplamente reconhecida como uma reformadora das visões apocalípticas da sua época”). Mais que visionária, Hildegard foi uma espécie de “visionologista” (McGuinn, Essential Writings of Christian Mysticism, 2006) – no sentido em que alguém pode refletir sobre a maneira pela qual um místico recebe o dom de receber “visões” e o efeito que essas têm sobre a sua consciência”. (B.McGinn)

Hildegard não ‘cedeu’ à tentação de expor suas primeiras visões, resistiu, chegou a adoecer preocupada com suas experiências místicas e se essas deveriam ser reveladas ou não. Acamada, Hildegard, uma mulher sempre ativa, compreende e interpreta a doença como um sinal da desaprovação de Deus ao seu silêncio. Cede, pois, ao inevitável e começa sua obra mais duradoura, transformando em iluminuras as suas visões e com a ajuda de um secretário (Irmão Volmar e a irmã Richardis), nós a temos hoje transcritas.

And it came to pass… when I was 42 years and 7 months old, a burning light of tremendous brightness coming from heaven poured into my entire mind, like a flame that does not burn but enkindles. It inflamed my entire heart and breast, like the sun that warms an object with its rays. All at once I was able to taste of the understanding of books – the Psalter, the Evangelists and the books of the Old and New Testaments.”

Um pouco da experiência mística de Hildegard pode ser vista em filmes. Um deles, vimos na aula da prof. JANE ELLEN e recomendo. “ORDO VIRTUTUM”. Na semana que vem, trarei mais informações e comentários e impressões sobre Hildegard de BINGEN e sobre o curso de Jane Ellen. Para finalizar hoje, deixo com vocês a auto-definição de HILDEGARD:

Listen: there was once a king sitting on his throne.

Around him stood great and wonderfully beautiful columns ornamented with ivory,

bearing the banners of the king with great honour.

Then it pleased the king to raise a small feather from the ground

and he commanded it to fly.

This feather flew, not because of anything in itself

but because the air bore it along

Thus am I a feather on the breath of God. “

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Fontes: ELLEN, Jane. “The Mystery of Hildegard of Bingen“, notes from the course #19844 – “Hildegard of Bingen”.
McGinn, Bernard. “The Essential Writtings of Christian Mysticism” (2006).

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