W.B.Yeats (3)


A Coat

I made my song a coat

Covered whith embroideries

Out of old mythologies

From heel to throat;

But the fools caught it,

Wore it in the world’s eyes

As though they’d wrought it.

Song, let them take it,

For there’s more enterprise

In walking naked.

Uma Capa

Uma capa fiz do meu canto

De baixo a cima

Bordada

De antigas mitologias;

Mas tomaram-na os tolos

Para exibi-la ao mundo

Como se por eles fora lavrada.

Deixa, canto, que a tomem,

Pois maior feito existe

Em andar nu.

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Fonte: W.B. Yeats, Uma Antologia, Assírio & Alvim, Lisboa, 1996, pág. 70-71, Tradução José Agostinho Baptista.
A poesia nesta manhã de sábado pode fazer enorme bem à alma (como faz à minh’alma) sedenta de algo acima do meio-fio da rotina diária.
Mantenho com a poesia uma relação apaixonada, na qual uma importante tensão é, confesso, a do desejo de ter escrito versos que amo.
Transcrever poemas é, pois, uma maneira de dizê-los (declamá-los, como se dizia antigamente) em voz baixa aos amigos mais distantes, como quem mandasse um recado, sussurando:
Ei, camarada, a poesia diz um pouco das saudades que sinto de mim mesmo (do menino antigo) e de você cuja voz talvez não ouvi, mas cuja articulação textual foi presente e importante para mim, outrora.

A Capa, tomada de empréstimo a W.B. Yeats é uma maneira de dizer-lhe:
– Venha ver que tolice cometo, escancaradamente, ao transcrever poemas.

A poesia vista assim tem algo de naïf, mas pode ser uma armadilha ao leitor apressado. Lendo com vagar e atenção talvez mistérios se descortinem…
– Ponha a capa ou ande nu com o poeta.

4 respostas em “W.B.Yeats (3)

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